E que tudo mais vá pro inferno
1978
Quando pensamos em fazer um disco com as composições de Roberto e Erasmo Carlos, foi a partir do
prazer que sempre senti em ouvir suas músicas. Menescal e eu passamos então a olhá-los não apenas como cantores, mas, sobretudo,
como autores. Trabalhando detalhadamente, percebi uma coisa importante, que não tinha notado à primeira vista. Existem vários
Roberto e Erasmo: o nostálgico, o adolescente, o da fixação no amor que não deu certo, o que canta o amor sensual e valoriza o
encontro significativo, casual, que irrompe na vida do outro, desorganizando, desarrumando o arrumado de uma vida programada como
uma camisa de força. Na escolha do repertório resolvi privilegiar o que me pareceu mais forte, positivo, o que leva para a frente
procurando uma brecha, uma saída. A música de Roberto-Erasmo passa pela emoção, fala das coisas “sem importância”, do quotidiano,
de forma clara, simples e direta. Não constrói uma visão do mundo nem define as coisas como devem ser. Não interpreta, relata
experiências. Fazer um disco não é somente o ato de gravar. É o prazer de ouvir música, de tocar em casa. Cantar Roberto-Erasmo me
fez ouvir velhos e novos compositores. A música de Roberto-Erasmo me fez redescobrir a música brasileira. Eládio, Helena, Roberto,
Yara, vocês muito me ajudaram neste disco. Discutimos, curtimos juntos, nos divertimos. É sempre bom ter vocês comigo.
Um Beijo.
Nara